Espaço Cultural Arte Tangível

Descrição

A idéia de formar a Arte Tangível: Companhia de Teatro para Pesquisa e Performance nasceu quando dois atores de países diferentes se encontraram num curso de Commedia dell Arte em Reggio Emilia, Itália, em 2001. Luciana Saul, do Brasil e Thomas Holesgrove, da Austrália já tinham feito longo treinamento inspirados, principalmente, pelos conceitos de Constantin Stanislavski, Jerzy Grotowski e Eugênio Barba. Nestes cursos práticos eles tiveram bastante tempo para experimentar e trabalhar com estes conceitos e então ficaram decepcionados com a vida profissional, trabalhando em televisão e teatro comercial, onde sentiam que a arte do ator era mal entendida, senão completamente esquecida. Quando se encontraram na Itália começaram a conversar sobre suas experiências e discutir suas referências teóricas e seus interesses artísticos. Ambos queriam aprimorar a sua própria arte como atores e ambos queriam contribuir de maneira relevante ao desenvolvimento das artes cênicas tanto na prática, como na teoria, especificamente com relação à arte do ator. Com estas finalidades resolveram fundar juntos uma companhia de teatro.

Durante as conversações falaram bastante sobre antropologia teatral, uma área de estudo explorada por Jerzy Grotowski e Eugenio Barba. Barba (o fundador da ISTA: The International School of Theatre Anthropology) define antropologia teatral como um novo campo de estudo aplicado ao ser humano numa situação de representação organizada. Ele explica que: Atores diferentes, em diferentes lugares e épocas, apesar das formas estilísticas específicas às suas tradições, têm compartilhado princípios comuns. A primeira tarefa da antropologia teatral é seguir esses princípios recorrentes.

(Barba e Savarese, A Arte Secreta do Ator: Dicionário de Antropologia Teatral, p8). Durante este período, Saul e Holesgrove receberam um convite para ir ao ?The Workcenter of Jerzy Grotowski e Thomas Richards (O Centro de Trabalho de Jerzy Grotowski e Thomas Richards) para assistir e discutir Ação, a última obra do Grotowski, resultante de 15 anos de pesquisa na área de antropologia teatral, com apoio da Fundazione Pontadera, na Itália. Inspirados por esta linha de pesquisa, Saul e Holesgrove resolveram desenvolver sua pesquisa olhando para outras culturas e outras tradições de teatro para observar e estudar princípios que propiciassem um aprimoramento de suas próprias técnicas de interpretação. Neste contexto, Saul falou sobre o Candomblé, religião afro brasileira criada no seu país.

Explicou sua idéia de fazer pesquisa de pós-graduação para estudar as cerimônias públicas do Candomblé, os seus princípios, e a aplicação destes princípios por atores ocidentais. Os dois elaboraram esta idéia e então se reuniram com o professor Marco De Marinis, da Universidade da Bologna, para discuti-la. Marinis, membro da ISTA e amigo pessoal de Eugenio Barba mostrou bastante interesse na proposta é até se ofereceu para orientar a pesquisa. Ele explicou que ISTA já havia pensado em fundar uma sede no Brasil mas desistiu por falta de contatos. Animados com a idéia de afiliar a sua companhia ao ISTA e inspirados para pesquisar o Candomblé nos terreiros de São Paulo, Saul e Holesgrove resolveram fixar bases no Brasil para realizar as suas pesquisas. Chegando ao Brasil, em 2002, Saul e Holesgrove começaram a freqüentar os terreiros de Candomblé de São Paulo e se aprontaram para começar pesquisas de mestrado na Escola de Comunicações e Artes (ECA), na Universidade de São Paulo (USP). No final de 2002, Saul foi admitida no programa de mestrado para realizar o seu projeto: ?Rituais de Candomblé: uma inspiração para o trabalho criativo do ator?. Também, no final de 2002 Saul e Holesgrove se juntaram com mais dois atores, Renata Mazzei e Alexandre Saul, e os quatro fundaram a Arte Tangível: Companhia de Teatro para Pesquisa e Performance.