Fernanda Azevedo está entre as indicadas ao Prêmio Shell 2014 de Melhor Atriz.
No ano em que se completa 50 anos do golpe militar no Brasil, a Kiwi Companhia de Teatro volta à cena com Morro Como Um País, montagem que estreou em março de 2013, com direção de Fernando Kinas. A reestreia acontece no dia 26 de março, quarta-feira, no CIT-Ecum (Centro Internacional de Teatro), às 21 horas, com interpretação de Fernanda Azevedo, indicada ao Prêmio Shell de Melhor Atriz por esse trabalho.
Na noite de reestreia, após a apresentação, haverá performance musical com o Cordão da Mentira. O grupo apresenta quatro números, aquecendo os instrumentos para o Grande Desfile / Escracho, do 1º de abril de 2014, cujo tema é “Quando vai acabar a ditadura civil-militar”. O lema do grupo é batucar contra a militarização, o genocídio e o ufanismo.
Morro Como Um País dá continuidade ao trabalho de pesquisa da Kiwi, desenvolvido com foco na reflexão política, social e estética. O espetáculo não segue um padrão tradicional de encenação; não há uma história com princípio, meio e fim. A referência para a encenação é o texto literário Morro Como Um País, escrito em 1978 por Dimitris Dimitriadis (nascido em 1944), um relato poético de como o povo grego viveu a “ditadura dos coronéis” (1967/1974).
A peça coloca em foco a discussão sobre o “estado de exceção permanente”, definido pela suspensão de direitos, mesmo em períodos de aparente “normalidade democrática”. São situações em que a ilegalidade toma a aparência de legalidade. Também apresenta momentos históricos de especial tensão entre o desejo de transformação e de justiça social e a violência praticada pelo Estado.
A concepção de Fernando Kinas articula mais de 30 tableaux (cenas independentes) articulados de forma a provocar a reflexão e compreensão do espectador. A encenação delineia quadros como em um jogo onde todos os presentes estão inseridos, incluindo uma referência às brincadeiras coletivas infantis. O jogo cênico propõe reunir prazer e reflexão sobre a história do país.
Com a intenção de inquietar o espectador, o trabalho se inspira e utiliza recursos do teatro documentário e da matriz brechtiana, inspirando-se ainda na obra do diretor russo Meierhold. O material retirado da realidade e usado em cena é formado por relatos, matérias jornalísticas, depoimentos, imagens, canções, brincadeiras, poemas, trechos de romances e letras de músicas.
Segundo o diretor, “não há carga emocional pela reconstrução psicológica, a contundência se dá mais pela informação narrativa do que pelos recursos dramáticos convencionais”. A atriz Fernanda Azevedo completa dizendo que “não temos as respostas para tudo, mas tentamos fazer as perguntas certas”.
A música é usada com função dramatúrgica, a exemplo da música cigana (povo historicamente perseguido), dos clássicos de exaltação nacionalista durante a ditadura (Eu te amo meu Brasil) e das músicas de protesto. A companhia trabalha com alguns conceitos na montagem, entre eles, o de cânone, figura musical que supõe um padrão de repetição (há um relógio em cena com mostrador e mecanismo invertidos) e desmontagem das personagens clássicas em favor do depoimento e da exposição de contradições, tanto na forma como no conteúdo do que é exposto cenicamente. A iluminação de Heloísa Passos (cineasta e diretora de fotografia em curtas e longas-metragens) traz referências cinematográficas e prioriza as luzes frias.
O projeto do grupo, que existe há 16 anos, alia reflexão e experimentação estética. Isto tem relação com a trajetória de Fernando Kinas, que tem Doutorado em Teatro pela Sorbonne Nouvelle e Universidade de São Paulo. Uma longa pesquisa de cerca de oito meses foi desenvolvida para este trabalho, que incluiu viagem à Argentina para investigar processos autoritários na América Latina.
A Montagem Morro como Um País estreou em março de 2013, no Teatro Grande Otelo, e fez temporada também em São Bernardo do Campo (uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação e Ministério da Cultura), além de apresentações em diversos espaços e eventos do País. Em 2014, fará temporada nacional em cidades do Nordeste (Fortaleza, Crato e João Pessoa), Brasília e Rio de Janeiro. Em junho deste ano, a Kiwi Companhia de Teatro seguirá para o Canadá, onde encenará uma performance inédita criada especialmente para o Encontro do Instituto Hemisférico (o evento refletirá sobre as manifestações populares). Também viajará pelo interior de São Paulo com o espetáculo Carne, com apoio do ProAC.
Ficha técnica
Trabalho cênico: Morro Como Um País
Roteiro e direção geral: Fernando Kinas
Interpretação: Fernanda Azevedo
Cenário: Júlio Dojcsar
Figurino: Maitê Chasseraux
Iluminação: Heloísa Passos
Pesquisa e música original: Eduardo Contrera e Fernando Kinas
Pesquisa e tratamento de imagens: Maysa Lepique
Assessoria e treinamento musical: Luciana Fernandes e Armando Tibério
Direção de produção: Luiz Nunes
Assistência de produção: Dani Embón
Programação visual: Camila Lisboa
Realização e produção: Kiwi Companhia de Teatro
Serviço
Reestréia: 26 de março - quarta-feira - às 21 horas
CIT-Ecum (Centro Internacional de Teatro)
Rua da Consolação, 1623 – Consolação/SP. Tel: (11) 3255 5922 ou 3129 9132
Temporada: quartas e quintas – às 21 horas - Até 17/04
Ingressos: R$ 40,00 (meia: R$ 20,00). Bilheteria: 1h antes das sessões.
Duração: 95 min. Classificação etária: 14 anos. Capacidade: 134 lugares.
Acesso universal. Ar condicionado. Estacionamento conveniado ao lado: R$ 15,00